Límpido


Que falta me faz a chaleira apitando, falta tão desnecessária quanto correr ao mercado por falta de torradas. Sequer gosto de torradas e não preciso de uma chaleira mas a necessidade de ter o que me falta é tão deficiente que faz querer preencher os vazios, os vazios prescindíveis e supérfluos, que não são feitos para serem preenchidos e sim para deixarem o ar circular e ventilar as artérias do sufoco de saber que não existe mais lugar para absolutamente nada. Preencho cada parte deste todo com um pedaço do que é seu -- o perfume, as camisetas, o sorriso,... -- deixando que a sua mais singela e comum forma de agir me comova ou me surpreenda todos os dias; estranho pensar que me apaixono o tempo todo pelos mesmos movimentos e frases e me encanto por essa sua facilidade de me ter por livre e espontânea vontade.
Você vem com esse jeito singular de ser meio amigo meio amante, meio poeta meio político, me deixando admirada e sem ao menos poder dizer que estou apaixonada em tão pouco tempo.
Irregular demais para nós as declarações de amor, os apelidos de casais no auge da paixão, irregular demais as promessas...
Sendo sincera você reconhece todo meu amor, sem mais, simples e frágil assim.