O Sol luzia a casa, cada fresta das janelas era tomada por
luz. Era domingo e eu puxava a cadeira até bem próximo à cortina para observar
todo aquele gramado verde que chegava até a cerca branca de madeira.
Há anos atrás a casa era nossa, a vista era nossa e podíamos
imaginar o nosso futuro além daquela cerca. Era a vida que eu queria. Continuar
sentando na varanda para tomar chá no nosso conjunto de xícaras coloridas e
jogar fora todas aquelas conversas acumulada durante a semana. Minha alma nunca
foi tão leve. Planejávamos um filho para o próximo verão e muita lenha para o
próximo inverno, mal sabia eu que o frio daquela estação seria o mais rigoroso
e doloroso que a vida aguardava para me entregar de braços abertos.
Você construiu nossas cadeiras para o chá de domingo, cortou
madeira e fez a cerca que hoje me deixa presa na lembrança do que vivemos.
Nossos pássaros lamentam sua partida e eu lamento minha estabilidade caiada.
Hoje não ouso mais sentar na varanda que era nossa, não sei em qual mês estamos
e sequer faço questão de trocar minha xícara branca por outra qualquer. Optei
por tomar café a tomar saudades.